Fila para carros no Brasil é de até 6 meses; espera é maior para os modelos mais baratos

Apesar de fornecimento de chips já ter melhorado no País, indústria automobilística prioriza os veículos mais caros, que são mais lucrativos

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Foto do author Cleide Silva
Atualização:

A escassez de componentes, em especial de semicondutores, já não é tão problemática como no início do ano, mas segue causando descompasso entre produção e demanda na indústria automobilística brasileira. Mesmo num mercado afetado pela alta de preços, juros elevados e restrição dos bancos na concessão de financiamento, há filas de espera de seis meses ou mais para alguns modelos ou versões de carros.

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A falta envolve tipos variados de automóveis e comerciais leves, mas, segundo lojistas, afeta principalmente as versões de entrada, que são as mais baratas de cada modelo. Como não há chips para todos, várias montadoras preferem priorizar a produção de modelos mais sofisticadas, que dão maior retorno na venda.

“Tem demanda reprimida”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite. Segundo ele, para alguns modelos de maior volume de vendas há fila de seis meses. “Mas há casos de espera de até nove meses”, afirma.

Com disponibilidade de alguns componentes, a Volkswagen tem convocado parte dos funcionários para trabalho extra aos sábados ou domingos desde meados de setembro para completar carros que aguardam peças no pátio da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

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Um dos modelos fabricados nessa planta, o Polo, teve sua versão 2023 colocada à venda no último dia 6 e vendeu 7 mil unidades em duas horas. No ano todo, até setembro, as vendas do modelo somavam 2,4 mil unidades.

A entrega dos modelos renovados será escalonada para os próximos 30 a 60 dias, informa a Volkswagen. O novo Polo custa de R$ 83 mil a R$ 110 mil. Outros veículos da marca têm espera de até dois meses, dependendo da versão.

Novo Polo; modelo teve 7 mil unidades vendidas em 2 horas e entrega será escalonada em até dois meses Foto: Volkswagen/Divulgação

Na Stellantis, há fila de espera de seis meses para as versões mais procuradas da picape Fiat Strada, que é líder de vendas no mercado brasileiro. O mesmo prazo vale para o utilitário-esportivo (SUV) Fiat Pulse e para o Jeep Commander, cuja linha 2023 foi lançada em setembro. Os preços dos três modelos começam em R$ 96,3 mil, R$ 95,6 mil e R$ 237 mil, respectivamente.

Produção compartilhada

No mês passado, apenas duas fábricas suspenderam produção por falta de peças. Leite afirma, porém, que essa escassez ainda é o maior limitador para a produção de veículos. Segundo ele, um automóvel atual utiliza de 1,5 mil a 2 mil semicondutores, volume que aumentou com a oferta de mais conectividade e novas tecnologias nos veículos.

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Para dar conta da demanda interna e das exportações, evitando assim demora nas entregas, a General Motors passou a fabricar o SUV Tracker também em sua fábrica na Argentina. O motivo, segundo a empresa, é complementar a produção da planta de São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Fábrica da GM no ABC produz o SUV Tracker; linha passa a ser compartilhada com planta da Argentina Foto: General Motors/Divulgação

Neste mês, começaram a chegar ao Brasil as primeiras unidades do Tracker argentino, modelo que custa a partir de R$ 118,5 mil. A GM não revela se há fila de espera para carros da marca, mas confirma que a cadeia global de suprimentos ainda tem demonstrado imprevisibilidade no fornecimento de componentes, com impactos pontuais na indústria automotiva mundial.

Segundo a GM, “isto tem provocado desabastecimento temporário de alguns modelos ou configurações específicas no mercado”. Informa ainda estar trabalhando ativamente com seus fornecedores para mitigar potenciais paralisações na produção e para buscar alternativas no intuito de otimizar o prazo de entrega dos produtos aos clientes.

De acordo com revendedores, a Honda, que paralisou a linha de produção da fábrica de Itirapina (SP) de 3 a 14 deste mês, por falta de semicondutores, está com dificuldades de atender a demanda pelo novo utilitário-esportivo HR-V, lançado em julho. O modelo, com preços a partir de R$ 142,5 mil, tem fila de mais de três meses. Em setembro a Honda já havia interrompido operações em Itirapina por uma semana.

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No caso da Hyundai, há espera de dois a três meses para modelos top de linha, como o sedã HB20 Platinum Plus (R$ 125,3 mil) e o SUV Creta N Line (R$ 159,5 mil), de menor volume de produção. Na Toyota, a maior espera, de sete meses, é para o SW4 nas versões Diamond (R$ 424,3 mil) e GR-S (R$ 433,6 mil) apenas na cor branco pérola. A picape Hilux, na mesma cor, tem fila de dois meses.

Os dois veículos são produzidos na Argentina. Para demais cores há pronta entrega ou espera de apenas 15 dias – mesmo prazo válido para os sedãs Yaris e Corolla e o SUV Corolla Cross, feitos no Brasil. Nissan, Caoa Chery, BMW e Land Rover informam que estão com as entregas em dia ou com atrasos pontuais.

Estoques

O consultor Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, ressalta que o setor automotivo iniciou outubro com 176,3 mil veículos em estoque nas fábricas e nas revendas, número que ele considera suficiente para atender grande parte da demanda. “Pode estar faltando algumas versões específicas, mas acredito que a indústria não está mais limitada pela oferta, mas pela demanda, em razão de preços e juros altos, mas ainda assim as vendas no varejo estão bem.”

De janeiro a setembro, foram vendidos 1,5 milhão de veículos, dos quais 105 mil são caminhões e ônibus e os demais automóveis e comerciais leves. Para atingir a projeção da Anfavea para o ano, de vendas totais de 2,14 milhões de unidades, será necessário comercializar mais 637 mil veículos nesses últimos três meses, entre vendas no varejo e diretas (para locadoras, frotistas, etc).

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Pode estar faltando algumas versões específicas, mas acredito que a indústria não está limitada pela oferta.

Cássio Pagliarini, consultor da Bright Consulting

A meta é possível de ser atingida, avalia Leite, da Anfavea. Se confirmado, o volume será apenas 1% maior que o de 2021, e 23% inferior ao de 2019, antes da pandemia, quando atingiu 2,78 milhões de veículos. Para ele, o juro alto ainda não tem impacto forte no mercado por causa da demanda reprimida.

Pagliarini lembra, contudo, que em 2021 o preço médio dos automóveis subiu 17 pontos porcentuais acima da inflação. Neste ano a alta está 4 pontos acima da inflação oficial.

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